
Relação mãe e bebê se inicia na gestação, na experiência corporal .
Na semana 10 o feto apresenta o desenvolvimento das orelhas, e na semana 16 as orelhas estão praticamente prontas. A partir da semana 20, o feto tem as estruturas de ouvido e orelha formadas, e a função neuro sensorial se desenvolve após a semana 20. A partir daí o feto começa a reagir a sons.
No 5º e 6º mês há o desenvolvimento do sistema auditivo. E na semana 25 à 28 a escuta do bebê está totalmente formada. O feto então escuta os sons do corpo da mãe e responde aos sons externos, com alteração de pulso e se movimentando dentro do útero em resposta a estímulos sonoros.
A percepção auditiva, no sistema nervoso central, é efetuada no lobo temporal, ao nível das áreas auditivas, primária e secundária. A parte posterior da área auditiva primária recepciona os sons de alta frequência e a parte anterior os sons de baixa frequência. A área auditiva secundária recebe impulsos da área primária e do tálamo, considerando-se que esta é necessária para a interpretação dos sons e para a associação dos estímulos sonoros com outra informação sensorial (Snell 2006).
A audição da música é, primeiramente, recepcionada nas estruturas subcorticais, no núcleo coclear, no tronco encefálico e no cerebelo, ascendendo, posteriormente, às áreas auditivas, em ambos os hemisférios cerebrais. Para acompanhar a música, o cérebro activa regiões no hipocampo (centro de memória) para tentar reconhecê-la, o córtex sensorial e o córtex frontal, principalmente na região mais inferior. Para acompanhar os tempos da música, são utilizados circuitos temporizadores do cerebelo.
Música é uma parte íntima da psique e da forma humana.
Tem sido dito que a música é universal, sendo encontrada em todas as culturas partilhadas por seres humanos .(Darwin,1871) Tal como a competência da linguagem, há também uma competência musical inconsciente que é automaticamente adquirida a partir da exposição aos estímulos. (Miller, 2000)Características estruturais da música, como intervalo de timbre, e contorno do intervalo, são automaticamente decodificados pelos indivíduos, o que sugere que a arquitetura funcional do nosso cérebro tem sido adaptada para processar estímulos musicais e seres humanos encontraram na música uma parceira íntima na vida.(Trainor et al.,2002 Peretz et al.,200.
A música é considerada universal, mas a forma com que se escreve, lê e executa é também universal?
Durante séculos, a educação musical no Ocidente foi estruturada sobre a leitura da partitura tradicional um sistema gráfico linear composto por pentagrama, claves, figuras rítmicas, dinâmica, entre outros símbolos. Esse modelo, embora amplamente difundido nas instituições formais de ensino, não é universal. Ele representa apenas uma das possíveis formas de registrar e comunicar ideias musicais.
A ideia central é que a partitura tradicional da música ocidental baseada em pautas, clave, figuras rítmicas, compassos, tonalidade etc, é apenas uma entre diversas formas de notação musical desenvolvidas em diferentes culturas e épocas. Ou seja, ela não é universal, embora tenha sido institucionalizada no Ocidente (especialmente na Europa a partir do período medieval) e amplamente difundida por meio da colonização, da academia e da indústria cultural.
Aqui vão algumas formas de situar esse debate:
1. Diversidade de sistemas de notação ao redor do mundo;
• Música indiana: utiliza um sistema chamado sargam, que é uma notação silábica para as notas (sa, re, ga, ma, pa, dha, ni). A música indiana valoriza muito a improvisação e a oralidade, e a escrita é usada mais como guia.
• Música chinesa: o sistema jianpu (notação numérica) representa notas com números, similar a alguns sistemas ocidentais alternativos.
• Música árabe e persa: têm formas próprias de indicar os maqams (modos), frequentemente transmitidas oralmente, com grafias simbólicas ou anotação própria.
• Música africana tradicional: em muitos contextos, a música é ensinada inteiramente de forma oral, com forte ênfase em padrões rítmicos e movimentos corporais, sem notação escrita.
• Canto gregoriano: antes da pauta de cinco linhas, usava-se os neumas, símbolos que indicavam o contorno melódico sem precisão rítmica.
2. Notação alternativa e contemporânea;
• Notação gráfica: muito utilizada na música contemporânea e experimental, usa símbolos visuais, desenhos e gráficos para indicar intenções musicais. Exemplo: obras de John Cage ou Cornelius Cardew.
• Cifras e tablaturas: formas de notação simplificadas (muito comuns em música popular e ensino informal), indicam acordes ou posições em instrumentos como violão e guitarra, sem necessidade de saber ler partitura.
• Sistemas de cor, mapas ou desenhos: especialmente em pedagogias musicais para crianças ou métodos alternativos (como Orff, Dalcroze, Suzuki), há uso de mapas sonoros, cores e símbolos para representar ideias musicais.
3. Implicações cognitivas;
• Cada sistema de notação molda o modo como o músico pensa, sente e executa a música. A partitura ocidental, por exemplo, valoriza a exatidão e a leitura visual linear, enquanto outros sistemas favorecem a memória auditiva, a escuta ativa, a improvisação ou a corporalidade.
• Isso dialoga com a ideia de multiletramentos musicais — compreender a música não apenas como um código fixo a ser decifrado, mas como uma linguagem plural, encarnada em práticas culturais diversas.
Essas descobertas dialogam também com a neurociência e com o desenvolvimento sonoro-musical humano — que se inicia ainda na gestação, com a escuta dos sons corporais maternos e estímulos externos. Isso reforça a ideia de que a musicalidade é primariamente auditiva, corporal e afetiva, e só secundariamente gráfica.
Essa percepção tem impulsionado o surgimento e a valorização de metodologias pedagógicas que respeitam os processos naturais de aquisição musical. Chamados de
métodos ativos, esses caminhos alternativos ao modelo tradicional europeu promovem o desenvolvimento auditivo, a improvisação, a sensibilidade corporal e a escuta como base da musicalidade.
Quadro comparativo entre métodos ativos e o modelo tradicional de ensino musical

Escrita musical ao redor do mundo.
🎼 1. Notação Sargam (Índia)
A notação sargam utiliza sílabas (Sa, Re, Ga, Ma, Pa, Dha, Ni) para representar as notas musicais na música indiana.
🎵 2. Notação Jianpu (China)
O sistema jianpu é uma notação numérica chinesa que representa as notas musicais com números, facilitando a leitura e escrita da música.
🎶 3. Notação Maqam (Música Árabe)
A música árabe utiliza o sistema de maqams, que são modos melódicos específicos. A notação pode variar, mas frequentemente inclui símbolos únicos para representar microtons e ornamentações.
🎼 4. Neumas (Canto Gregoriano)
Os neumas são símbolos utilizados na notação do canto gregoriano, representando padrões melódicos antes do desenvolvimento da pauta moderna.
🎨 5. Notação Gráfica (Música Contemporânea)
A notação gráfica utiliza símbolos visuais, desenhos e gráficos para indicar intenções musicais, sendo comum em obras experimentais.
🎸 6. Tablatura (Violão/Guitarra)
A tablatura é uma forma de notação que indica as posições dos dedos nas cordas do instrumento, sendo amplamente utilizada para violão e guitarra.
🥁 7. Notação Orff
O método Orff utiliza instrumentos de percussão e enfatiza a improvisação e a criatividade, com notações adaptadas para facilitar a leitura por crianças.
🕺 8. Método Dalcroze
O método Dalcroze foca na musicalidade por meio do movimento corporal, utilizando a euritmia para internalizar ritmo e melodia.
🎤 9. Método Kodály
O método Kodály enfatiza o canto como ferramenta principal para o ensino musical, utilizando solfejo e notação adaptada para facilitar a aprendizagem

