Sanvit Aula

 Acolhimento e Prevenção da Evasão no Ensino Musical por Hobby

Como se tornar um professor de música livre de alto impacto?



O que se pode esperar de uma aula livre de música?


A maioria dos alunos da Sanvit Aula, assim como aqueles que procuram por aulas livres de música, não visa a profissionalização musical. Eles buscam, na verdade, uma experiência enriquecedora, o prazer de tocar, a realização de um sonho antigo, a expressão de suas emoções ou simplesmente um maior conforto ao cantar em igrejas, karaokês ou com amigos. O nosso desafio pedagógico é manter o engajamento mesmo quando a rotina se torna mais intensa, a motivação diminui ou o progresso parece imperceptível. Esses princípios refletem o ensino musical livre, que podemos entender como a música praticada como um hobby. Portanto, espera-se que um curso de música livre ofereça um sistema de ensino e aprendizagem que seja simultaneamente ativo e criativo.

Criatividade

Composição

Apreciação

Execução

Modalidades do fazer musical


Na aula anterior, fizemos uma breve introdução ao tema da criatividade e, nesta, vamos aprofundar a discussão sobre o eixo central do percurso da criatividade musical, alinhando as propostas do teórico Swanwick e de outros especialistas, referentes às modalidades do fazer musical: Composição - Apreciação - Execução.


Quero ressaltar que a Sanvit está promovendo, através da professora Cristiane Barbosa, sua própria metodologia ativa de ensino livre de música, que já incorpora as técnicas de escuta ativa nos cinco primeiros momentos da aula, denominados Seu Ouvido, Atelier Criativo e Filosofia da Diferença. Sintam-se à vontade para integrá-los em suas aulas.


Agora, vamos nos familiarizar rapidamente com as teorias que nos inspiram a sermos profissionais de alto impacto como professores de música livre.


Quem é o Keith Swanwick?


É um importante educador musical britânico, amplamente reconhecido por suas contribuições á Filosofia da educação musical e á formação de professores de música. Ele defende uma abordagem holística e estética da educação musical, com enfase na experiencia musical vivida e no desenvolvimento da musicalidade como forma de expressão cultural, e não apenas técnica. Por essa razão e entendendo a musica livre como expressão humana e o fazer cultural (Cultura produção do fazer do humano) essa teoria serve muito bem o aprendizado e ensino musical livre que se proponha ter um ensino de qualidade.


- Principais contribuições do autor:


  • Desenvolveu uma teoria estruturada sobre como as crianças aprendem musica, destacando processos processos expressivos, formais e criticos.
  • Propôs o modelo CLASP, sigla para (Composição, Literatura, Avaliação, Habilidades e Performance), como base para o currículo de educação musical.
  • Escreveu obras influentes, como: A Basis for Music Education (1979) - Teaching Music Musically (1999) - Musical Knowledge: Intuition, Analysis and Music (1994).


- Quem é Orff?


Carl Orff (1895- 1982) foi um compositor, pedagogo musical e regente alemão, conhecido tanto por sua obra musical quanto por seu trabalho inovador na educação musical infantil.

A sua obra mais conhecida e famosa é Carmina Burana (1937) - cantata baseada em textos medievais latinos e germânicos.



O teórico Orff, em sua obra "Orff-Schulwerk: Música para as Crianças", discorre sobre o ensino infantil. Contudo, é importante considerar que todos que iniciam sua jornada de aprendizado musical, independentemente da idade, estão como uma criança. Isso significa que se trata de algo novo. Assim, o que Orff desenvolve não se aplica apenas àqueles que a idade define como crianças. Outro teórico, Freud, ao abordar o funcionamento psíquico humano, afirma: "Somos a continuação da criança que um dia fomos". Isso indica que o lúdico não é exclusivo da infância; o ser humano integral carrega dentro de si essa criança que precisa do lúdico, que podemos entender aqui como a capacidade criativa. Não deixe de assistir ao filme "Duas Vidas"!

Orff  é o criador do método conhecido como ORFF-SCHULWERK citado a cima, ele desenvolveu em parceria com a educadora Gulid Keetman. Essa proposta revolucionou o ensino musical.


- Princípios de Orff-Schulwerk:

  • A música deve ser aprendida integrada com o movimento corporal, a fala e o ritmo.
  • O foco está na vivencia musical ativa, e não na teoria isolada.
  • Utiliza instrumentos simples, como; Xilofones, metalofones e e glockenspiels adaptados (com teclas removíveis), instrumentos de percussão corporal (palmas, estalos, pés). 
  • Incentiva a criação musical desde de cedo, mesmo sem leitura de partitura. 
  • Utiliza escalas pentatônicas, que facilitam a improvisação e evitam dissonâncias (que em música fala dos sons que quando tocados juntos geram tensão, instabilidade ou sensação de desconforto auditivo).   

     

Através dos ensinamentos de Orff, podemos identificar que a escala pentatônica, pode ser utilizada em todas as aulas, e cada tonalidade escolhida oferece uma nova experiência ao aluno, contribuindo para o seu engajamento no ensino ativo, essencial para o aprendizado e a prática musical livre. Neste texto, podemos observar a importância crucial e inegociável da responsabilidade ética do ensino livre, com a metodologia ativa, e a razão dela ser destacada como a nossa protagonista.


- Quem é Edwin E. Gordonw?


Gordon é um dos mais influentes pesquisadores em educação musical do seculo XX. Ele foi musico, pesquisador e psicologo educacional, e é conhecido por criar a Music Learning Theory (Teoria da Aprendizagem Musical), baseada no conceito audition.

Principais contribuições:

  1. Music Learning Theory (MLT): Uma teoria que explica como as pessoas aprendem música, comparando o processo com o aprendizado da linguagem.
  2. Conceito de Audition: É pensar música internamente, sem que ela esteja sendo tocada. Exemplo; ouvir uma melodia na cabeça e saber para onde ela vai. Audiation é para música o que o pensamento é para a linguagem. No exemplo dado dos 5 primeiros minutos de aula ser a escuta ativa é a técnica criada pela professora Cristiane Barbosa alicerçada em o que vimos até aqui e também de assuntos que veremos em outras aulas.
  3. Tipos e estágios de audiation: Gordon descreve estágios sequenciais, como; escuta, imitação, associação, compreensão e antecipação musical.

O que fazer quando o aluno não está engajado?


É essencial que o professor reconheça que a desmotivação do aluno pode ser gerada não apenas durante a aula, mas por uma série de fatores que impactam esse estado. Nesse cenário, um docente atento é capaz de identificar essas sutilezas e pode agir, implementando estratégias que estimulem a criatividade do aluno, promovendo um maior engajamento. A prática da escuta ativa, ao iniciar a aula com músicas, é crucial para reabilitar o interesse do aluno; não é apropriado, nem ético, afirmar de forma explícita para o aluno que ele está desmotivado. O professor, como facilitador, dispõe de abordagens que garantem ao aluno um ambiente seguro para seu desenvolvimento musical.


  • Criatividade como hábito (Sternberg, 2010).

Podemos observar que a escuta ativa, do exemplo de 5 minutos com o aluno usando fones de ouvido e ouvindo música de maneira consciente e focada, permite que ele escolha, por meio das perguntas abertas, como irá executar a tarefa proposta. Esse processo induz o cérebro do aluno ao caminho da motivação (recompensa a longo prazo), o que, por sua vez, o guia em direção à criatividade, fator essencial para aumentar seu engajamento. Contudo, esse desenvolvimento não ocorre de forma imediata; é necessário um processo contínuo de repetição, e aqui a paciência do professor é fundamental para aguardar os resultados. Por isso, é de suma importância que o professor também pratique a escuta ativa fora da sua aula, participando assim da proposta de transformar a criatividade em um hábito.

  • Criar blocos de aprendizagem.

O plano de aula é importante para a organização do aprendizado e para o acompanhamento do professor em sua proposta de ensino. Com o plano de aula o professor tera dados para poder medir o desenvolvimento dos alunos dentro da proposta de ensino e assim poderá reafirmar o que esta dando certo e ajustar o que não esta dando o resultado esperado.

Por meio do plano de aula, o professor terá a oportunidade de escolher uma música específica que já foi ou está sendo abordada para realizar micro-intervenções que incentivam o processo metacognitivo do aluno. Por exemplo, ao revisitar uma música já trabalhada, o professor pode pedir que o aluno altere uma pequena parte de um trecho selecionado, solicitando que enfatize uma expressão em uma seção da canção que apresenta um ataque ou variação emocional, como feliz ou triste.

E o que caracteriza o aspecto metacognitivo desse exemplo é proporcionar ao aluno a possibilidade de estabelecer uma meta (a longo prazo) e realizar pequenas ações que o conduzam em direção a esse objetivo maior. Isso implica em incentivar o aluno a perceber que, por meio de pequenas etapas e objetivos menores interligados ao grande propósito que pode, por exemplo, ser a apresentação, gravação e publicação (os alunos decidem se preferem expor no mural do site ou na internet) do Atelier Criativo, essas instâncias impulsionam a motivação do aluno.


  • Modalidades do fazer musical (Swanwick, 2003) 

O processo de fazer música envolve apreciação, composição e execução. Um ponto a ser considerado é a escala pentatônica que auxilia na improvisação. Esses aportes teóricos e práticos auxiliam o professor na análise e compreensão do que está ocorrendo em sala de aula com seus alunos. 

Exemplos de cada item: 

- Na composição, o professor pode avaliar como as ideias dos alunos estão se organizando. 

- Na apreciação, o professor pode observar como os alunos estão ouvindo música e sua maturidade em gerar críticas para avaliar a composição. 

- Na execução, o professor pode verificar o nível de expectativa do aluno em relação aos itens anteriores e a possível dificuldade em executar o que espera. 

O objetivo é que o professor articule todos esses elementos, facilitando ao aluno a criação de conexões entre a prática, de modo a consolidar efetivamente o aprendizado. A escala pentatônica, composta por cinco notas, é um recurso valioso na improvisação musical e serve como uma “borda de segurança” para o aluno, permitindo que ele se aventure gradualmente com segurança. Isso contribui tanto para sua criatividade quanto para sua motivação e aprendizagem.

A escala pentatônica não é obrigatoriamente somente para instrumentos de teclas, pode ser usado em outros tons, para isso basta utilizar o primeiro, segundo, terceiro...quinto e sexto grau e uma escala, esse é um excelente material musical para trabalhar o estimulo musical para os alunos trabalharem possibilidades.


Estrategias para o ensino da musica


  • Questẽs em aberto

exemplo; todo o processo do técnica escuta ativa o seu ouvido, não pular as questões abertas no final.

  • Material musical

exemplo; escala pentatônica.

  • Projetos colaborativos que possuem início, desenvolvimento e conclusão

exemplo; é o ateliê criativo que utiliza a ABP, aprendizagem baseada em problemas, que representa o que há de mais relevante atualmente nas metodologias ativas.

  • Apresentações

exemplo; temas culturais, apresentação de fim de ano, dia das mães e o atelier criativo.

  • Metáforas

exemplo; do rio da apostila de violino.


Como organizar as estrategias?


Com base nos ensinamentos da teoria de Ken Robinson sobre criatividade musical, podemos destacar três passos essenciais: Encorajar - Identificar - Desenvolver.

A abordagem dos três elementos tem como objetivo ajudar o professor a incentivar uma postura ativa nos alunos. A escolha desse autor, que não se limita apenas ao estudo da música, mas abarca também criatividade, educação e artes, se justifica pelo fato de ele argumentar que o sistema educacional tradicional inibe a criatividade inerente, inclusive a musical. Como se trata de aulas de música livre, essa fundamentação teórica reforça sua relevância.

  • O que significa realmente encorajar?

Refere-se à compreensão da motivação do aluno. Isso implica que a crença no dom pode inibir a motivação, tanto do professor quanto do aluno. Essa crença gera um desânimo, pois promove a ideia de algo irreal. Todas as pesquisas em neurociências e os estudos sobre o cognição musical não corroboram a noção de dom. Na verdade, todos os seres humanos possuem a capacidade de aprender música.

  • O que significa identificar?

Como professor, você terá a responsabilidade de reconhecer tanto as potencialidades quanto os desafios de seus alunos, e isso servirá como seu guia na elaboração do plano de aula. Toda proposta ou aplicação de métodos de ensino musical individual se fundamenta nesse entendimento. O feedback imediato consiste em comunicar de maneira acolhedora, ética e motivadora ao aluno que, com base na sua observação, foi identificado os temas a serem abordados nas próximas aulas. Isso gera engajamento e motivação que são fundamentais para criatividade.

  • O que é desenvolver?

É responsabilidade do docente explorar continuamente a criatividade, transformando-a em um hábito. A improvisação é a sua ferramenta mais eficaz para concretizar esse conceito. A sonorização de um vídeo curto é uma excelente escolha criativa; você seleciona um vídeo sem áudio e, em conjunto com o aluno, desenvolve a trilha sonora. Ele poderá apresentar suas ideias, enquanto você o orienta na criação dos sons que deseja experimentar. Isso não significa que a intervenção do professor deva se limitar ao som final; o objetivo é proporcionar liberdade ao aluno para explorar e criar quantos sons forem necessários até que ele chegue ao que realmente considera ideal.

Revisando:

  • Clareza do professor nos objetivos de cada tarefa.
  • Estimulo de uma conduta criativa.
  • Questões em aberto.
  • Materiais musicais.
  • Improviso.


Essas etapas referem-se ao ensino musical criativo e ativo, que é a proposta central e essencial para as aulas individuais de música livre (Hobby). Não podemos aceitar como natural a frequência com que ouvimos dos professores de música livre que é "normal" os alunos saírem das aulas e não permanecerem. Isso reflete uma postura de um músico adolescente, para quem dar aulas significa algo diferente do que para um professor que compreende seu papel transformador por meio da música e que isso é a sua verdadeira profissão. O professor de música é um ser humano e pode ter dificuldade em sustentar sua motivação nas aulas, o que compromete a sua carreira. Reconhecer seu papel como educador e abraçar essa profissão torna sua prática profissional muito mais engajada, motivada e realista, evidenciando a beleza que o professor de música oferece à sociedade.


A coordenação pedagógica da Sanvit Aula surgiu com a proposta de ser um apoio fundamental para os professores que prestam serviços na nossa instituição. Reconhecemos a importância do seu papel e, mais do que isso, entendemos que, ao trabalharmos em conjunto, a jornada se torna mais leve. Não estamos aqui para ditar o que você, profissional da música, deve fazer, mas sim para oferecer suporte, garantindo que sua trajetória não seja solitária. Conte conosco sempre que precisar.

Frase-chave para lembrar:


"O aluno da Sanvit não vem para ser artista. Ele vem para se
reconhecer na arte."


Nosso papel é preservar o vínculo com a música como espaço de expressão, cuidado e conquista íntima.

Um fragmento do poeta espanhol Antonio Machado, da geração
de 1898:


          "Caminante, no hay camino, se hace camino al andar."
                                   ("Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar.")


A satisfação está em percebermos que caminhamos, e apreciar o
caminho faz com que a chegada se tor
ne significativa. Cris.

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